Idoso de 111 anos evita enlatados e bebe um cálice de vinho diariamente

Redação PH

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idoso de 111 anos evita enlatados e bebe um cálice de vinho diariamente

Idoso de 111 anos evita enlatados e bebe um cálice de vinho diariamente

Descendente de escravos, Antônio Benedito da Conceição, conhecido como Antônio Mulato, completou 111 anos. Ele nasceu e mora até hoje na comunidade de Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento, a 42 km de Cuiabá. Neste ano, o aniversário foi comemorado com um almoço junto com amigos e da maioria dos 16 filhos, 36 netos, 44 bisnetos e 23 tataranetos e 2 trisnetos, no último domingo (12).
Para o neto dele, Airton Conceição de Arruda, 50 anos, o segredo da longevidade do avô está na alegria e na disposição para o trabalho. Ele contou que o avô sempre comeu de tudo, mas não gosta dos alimentos enlatados. Os pratos favoritos dele foram feitos no último aniversário, como o cozidão [carne e mandioca ao molho], feijão com joelho de boi e farofa de banana.
“Meu avô faz apoio, sapateia, toca pandeiro e cururu. Ainda hoje ele gosta de ir a festas e voltar tarde, depois das 2h da manhã. Ele também não passa uma semana sem ir à escola que ajudou a fundar”, disse Airton.
Antônio Mulato ajudou a construir escola na comunidade rural (Foto: Arquivo pessoal)
Antônio Mulato acorda cedo todos os dias e senta na frente de casa para tomar um cálice de vinho branco. Outra bebida que não pode faltar na rotina é o guaraná ralado. Pelo menos uma vez por semana ele pega carona com o ônibus que leva os estudantes e vai até a escola que ajudou a implantar, naquela comunidade.
“Vovô chegou a estudar no ano passado, mas parou. Ele diz que a escola é dele e vai até lá para olhar a horta, conversar com os estudantes, encontrar os amigos”, contou o neto.
Na década de 40, seu Mulato já tinha oito filhos na idade de começar a estudar. Naquela época, a comunidade onde morava não tinha escola e, então, ele procurou as autoridades e pediu que fosse construído um local de ensino para as crianças. Antônio conseguiu, inclusive, um terreno para a construção da unidade.
Mas Antônio Mulato conta que, no primeiro dia de aula, apesar dele ter sido o maior responsável pela construção da escola, os filhos não puderam entrar em sala. Segundo Airton Neto, o avô relata que naquele tempo não existiam professoras negras na região e então enviaram uma professora branca para lecionar. Os filhos fizeram o trajeto de 10 km a pé empolgados para começar a aprender a ler e escrever, mas, como a escola era pequena, faltaram vagas para todos.
“A professora escolheu só os alunos brancos e filhos de fazendeiros para permanecer na escola. Meu avô ficou indignado e comprou a briga. No final das contas, todos os negros puderam estudar também”, relatou Airton.
O nome da Escola Estadual Tereza Conceição Arruda, em Mata Cavalo, é uma homenagem a uma das filhas de seu Antônio, já falecida. Sem saber ler e escrever, ele formou filhos professores, advogados e fazendeiros.
O idoso faz questão de votar em todas as eleições até hoje. O neto Airton de Arruda, que é vereador naquele município, contou que, há seis anos quando o processo para o cadastramento biométrico começou em Nossa Senhora do Livramento, o avô foi o primeiro do município a cadastrar as digitais.
“Há 30 anos, vovô diz que vai ser a última festa de aniversário dele. Este ano nem íamos comemorar por causa da crise. Ele é muito saudável. Acho que ele diz isso para criar motivos para festejar”, disse o neto.
Seu Antônio nasceu na comunidade quilombola Mata Cavalo. Casou-se duas vezes e teve filhos com três mulheres. Da primeira companheira, com quem teve seis filhos, ficou viúvo. Teve um relacionamento passageiro que lhe rendeu uma filha. Depois, se casou com a atual esposa, com quem tem outros seis filhos.
Antônio Benedito fez flexão durante a festa de aniversário de 110 anos (Foto: Reprodução/ TVCA)

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