Carta do Ipiranga reforça compromisso firmado há 10 anos

Redação PH

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Carta do Ipiranga reforça compromisso firmado há 10 anos

Agricultores do médio norte de Mato Grosso se reuniram em um evento com mais de três mil pessoas na quinta-feira (21) para lembrar os "10 Anos do Grito do Ipiranga", um marco na história do município de Ipiranga do Norte, onde tudo começou. A solenidade foi realizada pelo Sindicato Rural do município, com o apoio da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), no Centro de Tradições Gaúchas (CTG). Participaram do evento produtores rurais, lideranças do setor e autoridades públicas municipais e estaduais.

O movimento nasceu do sentimento de indignação de seis agricultores na cidade de Ipiranga do Norte. O pioneiro José Nilton Cesário Mafra conta que a agricultura no médio norte estava falida e a dor de ver o sofrimento dos colegas agricultores mobilizou a categoria em um manifesto que ficou conhecido nacionalmente.

O Grito do Ipiranga teve início em 2006 como um tímido manifesto em frente aos armazéns compradores de grãos. Na época, autoridades como o senador Jonas Pinheiro (in memoriam), deputada federal Celcita Pinheiro e o deputado estadual Dilceu Dal Bosco apoiaram a iniciativa.

Com objetivo de fortalecer o movimento naquele ano, foi aprovada em assembleia realizada em Sorriso a adesão de outros municípios da região. Com isso, logo o movimento ganhou dimensão estadual e de estados agrícolas do país chegando aos órgãos federais em Brasília.

Na avaliação do presidente da Famato Rui Prado, o Grito do Ipiranga possibilitou mudanças substanciais na política agrícola do Brasil. "Por meio do Grito iniciou no Brasil um novo modelo de agricultura sustentável", disse Prado.

Para Rui Prado, relembrar os 10 anos do Grito do Ipiranga reforça a necessidade de fazer chegar aos poderes estaduais e federais que ainda há muito o que se avançar. "Se formos analisar a carta de dez anos atrás com a de hoje pouca coisa andou. Temos vários problemas ainda e que estavam na carta anterior e continuam até hoje, como por exemplo, a questão logística e os preços dos combustíveis", reforçou.

Durante a solenidade o produtor rural Loinir Gatto fez a leitura oficial da "Carta de Ipiranga". A carta traz informações das reivindicações proclamadas na época e um balanço do que teve evolução favorável e quais demandas permanecem insolúveis até os dias atuais.

Gatto ressaltou que de todas as reivindicações a que mais massacra os agricultores são os preços dos combustíveis "No Brasil o combustível utilizado para produzir alimentos é tratado do mesmo modo que o utilizado para o lazer. O que pagamos nas bombas de combustível é um absurdo", destacou.

Na mesma carta os produtores fizeram dez novas reivindicações que reforçam as que foram feitas há 10 anos. O presidente do Sindicato Rural de Ipiranga do Norte Valcir Batista esclareceu que a carta foi assinada pelos produtores rurais presentes no evento e será encaminhada aos órgãos federais e estaduais, autoridades políticas do país e a Frente Parlamentar da Agricultura (FPA).

Para o prefeito municipal Pedro Feronatto, a carta é uma retrospectiva que faz perceber que o setor agrícola não pode se acomodar. "Essa carta reforça o compromisso por mais 10 anos. Não podemos esperar acontecer, temos que cobrar dos nossos representantes políticos, cobrar do governo federal o atendimento às reivindicações. Movimentamos a economia deste estado e do Brasil e precisamos de incentivos para continuar produzindo e alimentando milhões de famílias", pontuou.

Batista disse que é importante lembrar que o Grito do Ipiranga fortaleceu as entidades representativas. Segundo o presidente, a partir do Grito nasceu a Associação de Produtores de Soja e Milho (Aprosoja) e fortaleceu ainda mais a Famato. "Hoje não precisamos fechar BR’s, queimar pneus para chamar a atenção de autoridades, porque hoje temos entidades fortalecidas e com representatividade para defender as nossas necessidades", discursou.

O vice-governador Carlos Fávaro disse que é fundamental que o governo federal termine a BR 163, uma das principais reivindicações dos produtores. "A conclusão da BR 163 é a carta de alforria da agricultura brasileira. Nós vamos ganhar competitividade, fazer com que o Centro-Oeste brasileiro seja mais competitivo e acesse os mercados internacionais com melhores preços e vamos desentulhar os portos do Brasil. Isso tem que ser prioridade", disse Favaro.

Participaram da solenidade presidentes dos Sindicatos Rurais de Paranatinga, Nova Ubiratã, Nova Canaã do Norte, Matupá, Tabaporã, Vera, Sapezal, Sinop, Sorriso, Carlinda e Tapurah. Também estiveram presentes, o deputado estadual Dilmar Dal Bosco, ex-ministro da Agricultura Neri Geller, vice-presidente da Aprosoja Elso Pozzobon, delegados da Aprosoja de vários municípios do estado, representantes da AMM, OCB, Sicredi Regional, vereadores de Ipiranga do Norte e o prefeito de Nova Maringá João Braga Neto.

Confira as reivindicações feitas em 2006 e 2016:

Carta de 2006

1º. Conclusão da BR 163 (urgente);
2º. Decretação do estado de calamidade pública nos municípios do médio norte;
3º. Implantação de uma política agrícola bem definida;
4º. Extinção do CID sob o óleo diesel;
5º. Garantia de renda para os produtores conforme assegurado em lei;
6º. Liberação dos herbicidas genéricos para diminuição de custos;
7º. Extinção do Fethab;
8º. Implantação do AGF e EGF no estado de Mato Grosso;
9º. Utilização do FAT para aquisição de dívidas dos produtores junto às empresas fornecedoras de insumos;
10º. Redução do ICMS no estado de Mato Grosso;
11º. Considerar a ferrugem asiática como epidemia, dando ao caso a devida importância.

Carta de 2016

1º. Custo dos combustíveis no agronegócio;
2º. Ampliação do acesso ao crédito oficial;
3º. Seguro Agrícola;
4º. Eficiência Logística;
5º. Legislações específicas para garantir qualidade dos grãos, fertilizantes, sementes e agroquímicos;
6º. Segurança física e jurídica na propriedade da terra;
7º. Investimentos em pesquisa, exploração e produção de fertilizantes;
8º. Estudo e desenvolvimento de tecnologias com aplicação direta na cultura de soja ;
9º. Revisão do programa "PEP-Escoamento";
10º. Justiça quanto às contribuições dos produtores rurais.

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